Dia 12 – Orihuela, a Etapa Final

Ibn ‘Alqama era natural de Valência (1036 ou 1037), um burocrata num dos reinos taifa, talvez Denia, onde morreu em 1116. Como cronista que foi, escreveu a história de Valência, centrada na conquista do Cid, capítulo o qual tem por título “A exposição clara da tragédia desastrosa”. É de Ibn ‘Alqama também a afirmação de que, em 1088, desterrado por segunda vez, estando em território inimigo, sem apoio nem recursos para financiar suas mesnadas, Cid percorre boa parte do território da província de Alicante sem deixar pedra sobre pedra. Depois desta incursão, quando Cid vence o conde de Barcelona Berenguer Ramón II na batalha de Tévar, em 1090, o conde catalão entrega um amplo protetorado ao Campeador que, segundo o mesmo cronista, se estendia de Tortosa a Orihuela. Apesar, portanto, de não citada no Cantar, esta magnífica cidade é o ponto mais extremo até onde alcança o poder e a influência de Rodrigo Diaz, por isso mesmo, a etapa final do Camino del Cid.

No décimo-segundo dia de viajem alcançamos Orihuela. Já a caminho da entrada da cidade nos deparamos com as ruínas do Castillo de Oriolet.

Apesar de não haver registro de que Cid haja cavalgado por aqui, é certo que no tempo histórico do Campeador esta era uma já secular, grande e importante fortificação. Há registro de sua existência em tempos da Espanha visigótica, não depois de 713.

Os séculos não foram generosos com esta fortificação. Durante a Guerra da Sucessão Espanhola, no século XVIII, o castelo estocava pólvora, que foi atingida por um raio, causando uma explosão que destruiu a maior parte de sua estrutura. Em 1829, um grande terremoto terminou por arruinar seu aparato defensivo e logo depois o castelo foi declarado como Ruína Histórica. Considerado em estado irrecuperável, sua degradação não foi interrompida.

Estivemos no Palácio Episcopal da cidade, datado do século XVIII, de estilo barroco. Ali funciona o Museu Diocesano de Arte Sacra, onde pudemos apreciar – entre obras sacras desde a Orcelis romana do século VI – o Oriol (oriolus oriolus, ou papa-figos-europeu, em português), pássaro de corpo amarelo-ouro e asas e cauda negras que dá nome à cidade e estampa seu escudo.
A Iglesia Catedral del Salvador y Santa María de Orihuela foi construída no melhor estilo gótico levantino no século XIII, sobre os antigos templos visigodo e muçulmano. Recentemente concluiu a restauração e reinaugurou seu órgão de flautas que, no justo momento em que chegamos, estava sendo afinado e não pudemos entrar e visitar o sacro espaço.



Depois de um formidável almoço típico no restaurante Manolo, às margens do rio Segura, estivemos no antigo claustro do Convento Nuestra Señora de la Merced (século XVI).



Declarada Conjunto Histórico Artístico, Orihuela é considerada uma cidade monumental, dada a quantidade de prédios e edificações históricas, predominantemente em estilo barroco. Monumento menor não será a obra do oriolano Miguel Hernández (1910-1942), que, casado com Josefina de Manresa, a tinha por musa absoluta de seus versos.

“Ser onda, oficio, niña, es de tu pelo,
nacida ya para el marero oficio;
ser graciosa y morena tu ejercicio
y tu virtud más ejemplar ser cielo.
¡Niña!, cuando tu pelo va de vuelo,
dando del viento claro un negro indicio,
enmienda de marfil y de artificio
ser de tu capilar borrasca anhelo.
No tienes más que hacer que ser hermosa,
ni tengo más festejo que mirarte,
alrededor girando de tu esfera.
Satélite de ti, no haga otra cosa,
si no es una labor de recordarte.
-¡Date presa de amor, mi carcelera!”
(Primeros Poemas, 1933)
Tivemos uma magnífica atenção de Verónica na Oficina de Turismo. Ali carimbamos com o derradeiro selo nossos salvo-condutos, tivemos orientações para a certificação do Camino del Cid e muitas sugestões sobre o que ver e fazer em Orihuela, as que seguimos na medida do possível. Orihuela é uma das cidades cujas lembranças guardaremos em lugar especial. É, afinal, um ótimo desfecho de uma viagem tão bela, significativa e transformadora.



Este projeto começou a ser sonhado e planejado em família há algum tempo. Só pôde ser realizado, como projeto acadêmico, com o fomento do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq – Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação – e com o apoio do Instituto Federal do Paraná – Campus Astorga. O percurso pelo Camino del Cid, realizado de 09 a 21 de maio de 2025, é apenas uma das metas traçadas. Outros resultados poderão ser acompanhados nesta mesma página.

O Camino del Cid é uma experiência que transcende expectativas. Apenas nos alenta saber que poderemos em algum momento voltar. Fechamos este capítulo de nossas vidas convencidos de que, nesta oportunidade, vimos muito mais do que imaginávamos, muito menos do que gostaríamos e tudo o que pudemos ver.