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A palavra geste em francês medieval chega, ao português e ao espanhol modernos, como gesta. Na Idade Média, o termo tinha um sentido tão amplo e tal era sua relevância que legou à modernidade um dos gêneros literários mais representativos dos tempos médios, o “Cantar de Gesta”, também conhecido como “Épica Medieval”. Nesses cantares, o termo aparece muitas vezes com um sentido muito mais amplo. Numa passagem do Cantar de Guillermo, o professor Joaquim Rubio, em nota, esclarece: “O termo aparece muitas vezes na épica francesa com esse significado de ‘linhagem’ ou ‘família cujas façanhas são famosas’”.
A Gesta Peregrina remonta, portanto, uma tradição épica familiar, a coragem esforçada, os grandes feitos e o ímpeto, não às batalhas e justas medievais, mas a uma peregrinação em revisita aos tempos e lugares que, em alguma medida, conformaram valores e visão de mundo que ainda nos pertencem.
Assim, a Gesta Peregrina surge como objetivo do projeto acadêmico “Cantar de Mio Cid: Tradução, tradição e oralidade”, aprovado como prioridade P001 pela Chamada Pública MCTI/CNPq nº 14/2023 na modalidade de Pós-Doutorado no Exterior, que será supervisionado pelo professor Dr. Antoni Rossell, da Universitat Autònoma de Barcelona. O produto final como resultado do projeto será a primeira edição brasileira, bilíngue e comentada do Cantar de Mio Cid, cuja dimensão oral, própria dos cantares de gesta, será também reproduzida em performance. Além disso, como um dos objetivos parciais do projeto, empreenderemos uma jornada épica de descobertas, superações e aprendizados, na qual serão percorridos 1420 km pela Espanha interior, por pueblos isolados e importantes cidades, refazendo os caminhos de Rodrigo Díaz de Vivar, el Cid, o herói nacional da Espanha do século XI, desde o seu desterro em Burgos até os episódios da defesa do sul, de Valência a Orihuela. Esta é a Gesta Peregrina pelo Camino del Cid (https://www.caminodelcid.org/), um percurso no qual literatura e história se confundem, se afastam e se aproximam.